O Jogo dos Juros
É hora de refazer as contas. Quem trocou fundos DI e CDBs no ano passado pela poupança deve rever os cálculos agora. Com o ciclo recente de alta dos juros, a balança moveu-se contra a caderneta, alertam especialistas. Se, como esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros para 8,5% hoje, vale a pena refazer as contas. Nesse caso, um fundo DI com taxa de administração inferior a 0,82% passa a ganhar da nova poupança – que rende 70% da Selic – para qualquer prazo de aplicação. Se a intenção não for resgatar em menos de seis meses, a taxa de 1% passa a ser aceitável. Para qualquer período, porém, o custo não pode superar 1,5%.
Entre outubro de 2012 e abril deste ano, quando a meta para a Selic se estabeleceu no patamar mínimo de 7,25%, era preciso garantir taxa de 0,7% no fundo DI para ganhar da caderneta em qualquer prazo. Uma carteira com taxa de 1% ou mais só ganharia da poupança para aplicações em prazo superior a um ano. Em qualquer circunstância, a taxa não poderia passar de 1,28%.
Tornar fundos DI com taxa de 1% atraentes para o prazo de seis meses a um ano – o que acontecerá quando os juros subirem para 8,5% – acrescenta 25 fundos, ou 276 mil cotistas, ao número dos que não precisam mais esperar um ano para ganhar da caderneta.
O cuidado na hora de selecionar o fundo DI apropriado, porém, permanece. Um levantamento feito pelo consultor Marcelo d"Agosto mostra que 191 fundos DI – dentre os 285 potencialmente acessíveis a investidores – têm taxa de administração de até 1% ao ano. Ou seja, dois terços estarão em vantagem com relação à poupança, mesmo depois da mordida do Leão, se o investidor puder aguardar pelo menos seis meses.
"Existem fundos com taxa de administração menor ou igual a 1% ao ano. Se não achar, o melhor é investir na poupança", afirma d"Agosto. Pesquisar é importante, diz, principalmente quando se considera que, diante da perda recente de competitividade dos fundos DI, a reação de vários gestores não foi a de reduzir as taxas de todas carteiras, mas de tornar fundos mais baratos acessíveis a investidores com menos recursos disponíveis para aplicar. Ou seja, eles deixaram ao investidor a missão de migrar de fundo. Ainda são oferecidos no varejo fundos DI com taxa de até incríveis 5%.
Em outro estudo, de correlação, d"Agosto mostra que, dentre os fundos DI, retornos mais altos para o investidor estão intimamente ligados a taxas de administração mais baixas. Ou seja, escolher um DI pela taxa faz sentido, o que não pode ser dito para outras categorias de fundo, em que a capacidade do gestor para seleção de ativos tem maior peso sobre o retorno.
A taxa de administração média dos fundos DI é de 0,82%, segundo os últimos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), referentes a maio. Já para o investidor de varejo, o desafio de encontrar um fundo com taxa viável é maior. A taxa média, para ele, é de 1,25%. Até maio, R$ 25 milhões dos recursos aplicados em fundos DI, ou 25% do total, estavam sujeitos a taxas superiores a 1%. Na média, as taxas ficam abaixo desse percentual apenas para aplicações mínimas superiores a R$ 25 mil.
Assim como os fundos DI, os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), na esteira das aplicações pós-fixadas, voltam a ganhar atratividade diante do novo ciclo de alta de juro. Com a taxa Selic a 8,5% ao ano, esses títulos já têm condição de brigar com a caderneta de poupança, sua principal concorrente nos últimos dois anos, afirma Gilberto Poso, superintendente-executivo de gestão de patrimônio do HSBC.
Segundo ele, para valores menores, de R$ 5 mil a R$ 10 mil, e prazo acima de um ano, o CDB já empata com a poupança, levando em conta uma remuneração de 85% a 86% do CDI. Se descontada a alíquota de 17,5% de IR, o retorno do CDB seria de 5,96% a 6,03% – próximo ao da poupança, correspondente a 70% da taxa Selic. Para valores mais altos, acrescenta Poso, o investidor consegue taxas melhores, que variam de 90% a 98% do CDI, dependendo do montante, e aumentam a vantagem do CDB.
Cálculos mostram que o CDB precisa pagar pelo menos 90,3% do CDI para empatar com a nova poupança em qualquer prazo de investimento (ver tabela). Vale lembrar que a remuneração do título bancário varia bastante, uma vez que depende do volume a ser aplicado e do relacionamento do investidor com o banco – a negociação é individual. Outra forma de se conseguir taxas melhores é optar por CDBs sem liquidez diária – em que o resgate ocorre só no vencimento – ou escalonados, em que a remuneração aumenta conforme o prazo.
"À medida que o juro aumenta, o CDB tende a ficar ainda mais atrativo", afirma Poso. Isso porque, com a Selic acima de 8,5%, a remuneração da poupança passa a ser fixa, em 0,5% mais TR. Uma vantagem do CDB em relação aos fundos de investimento é a ausência do come-cotas (cobrança semestral do imposto do renda). É bom lembrar, entretanto, que eles são títulos de crédito privado. Em caso de falência do banco emissor, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) garante a devolução de até R$ 250 mil por CPF. O mesmo valor se aplica para a poupança. Os fundos DI tradicionais carregam títulos públicos pós-fixados, que rendem a taxa Selic, mas podem ter até 50% de papéis privados (sem que seja preciso ter "crédito privado" no nome do fundo).
"Quando começou a ficar claro, a partir de abril, que os juros subiriam, passamos a aumentar o percentual de fundos DI que recomendávamos para os clientes", diz Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos. Ele ressalva que esse deve ser o destino das reservas que necessitam de liquidez, jamais para carregar por mais de dois anos. E também destaca que a taxa de administração não deve ser maior do que 1%.
Fundos DI e CDBs, diz Bittencourt, devem fazer parte de uma estratégia global para o portfólio. Quem pensa na poupança como destino principal das reservas, deve lembrar que não é certo sequer que ela ganhe da inflação no ano. No primeiro semestre, a poupança teve perda real de 0,6%.